Ex-diretor do Comitê Rio 2016 também foi preso. Eles são investigados pela compra de votos para escolha da cidade como sede da Olimpíada.
Já estão no presídio de Benfica, na zona norte do Rio, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Arthur Nuzman, e o ex-diretor geral de operações do Comitê Rio 2016, Leonardo Gryner. A Justiça decretou a prisão temporária deles na etapa da Operação Unfair Play, uma expressão em inglês que significa “jogo sujo”. Essa operação investiga o pagamento de propina para eleger o Rio como sede da Olimpíada.
Os policiais não gostaram da demora para abrir o portão. “Apressa, por favor, senão a gente tem é obrigado arrombar a porta aqui, tá?”, disse um policial.
Eram 6h. Duas horas e meia depois, Carlos Arthur Nuzman saiu preso da casa onde mora, em um condomínio de luxo no Leblon, na zona sul do Rio. O presidente do Comitê Olímpico do Brasil estava de terno e sem algemas. Praticamente no mesmo horário, a polícia também levava preso Leonardo Gryner, que é considerado o braço direito de Nuzman.
Até 2016, Gryner era o diretor de operações do Comitê Organizador da Olimpíada e também foi diretor de Comunicação do Comitê Olímpico do Brasil.
O Ministério Público Federal diz que os dois foram os responsáveis por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o repasse de propinas do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, do PMDB, diretamente a membros africanos do Comitê Olímpico Internacional.
As investigações apontam que, em setembro de 2009, três dias antes de o Rio ser escolhido como sede dos Jogos, foram pagos US$ 2 milhões. A força tarefa da Lava Jato afirma que o dinheiro vinha de um outro esquema de corrupção.
Pagamentos que o empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, fazia a Sérgio Cabral no exterior para garantir contratos com o governo do Rio na época. O empresário está foragido da Justiça desde setembro.
No pedido de prisão, nesta quinta-feira (5), o Ministério Público revelou e-mails em que os africanos cobram o que seria um calote no pagamento do restante da propina.
Papa Diack, filho de Lamine Diack, africano integrante do Comitê Olímpico Internacional, escreve para Carlos Arthur Nuzman e Leonardo Gryner, dois meses depois da escolha do Rio: "Nós estamos na sexta-feira, 11 de dezembro de 2009, e meu banco de Senegal ainda não recebeu nenhuma transferência de sua parte. Eu tentei falar com Leonardo Gryner diversas vezes, mas não houve resposta. Você poderia verificar com ele se ele pode confirmar 100% que as transferências foram feitas em meus endereços em Dakar ou em Moscou."
Em um outro e-mail revelado nesta quinta, Papa Diack faz referência a 'nossos amigos', o que, segundo os procuradores, indica a votação em bloco na cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016 por parte dos africanos.
Papa Diack escreveu: "Até hoje, 17 de dezembro de 2009, nenhum pagamento foi recebido em Dakar; nós estamos bastante envergonhados com o presidente, porque nossos amigos não acreditam mais em nós."
O pedido de prisão também traz uma foto de 2009 que registra a participação de Carlos Athur Nuzman em um jantar em Paris ao lado do então governador Sérgio Cabral e do ex-presidente da Fifa, João Havelange. Para o Ministério Público, foi uma comemoração antecipada.
Os procuradores do Ministério Público Federal dizem que Carlos Arthur Nuzman estava tentando atrapalhar as investigações sobre o patrimônio dele. E que só depois do início dessa fase da Operação Lava Jato é que o presidente do Comitê Olímpico do Brasil informou que tinha uma fortuna em ouro escondida na Suíça.
Em setembro, a Polícia Federal fez busca na casa de Carlos Arthur Nuzman e encontrou a chave de um cofre de um banco suíço. Depois disso, ele retificou a declaração do Imposto de Renda e informou que tinha 16 barras de ouro na Suíça.
“É um valor que está descoberto. É um valor total de R$ 2 milhões que não tem uma origem, não tem um lucro, não tem um rendimento que justifique essas barras de ouro. Enquanto os medalhistas olímpicos buscavam as suas medalhas, as tão sonhadas medalhas de ouro, dirigentes do Comitê Olímpico guardavam o seu ouro na Suíça”, disse a procuradora da República Fabiana Schneider.
São 16 kg de ouro. Na Rio 2016, as medalhas dos campeões olímpicos tinham 6 gramas de ouro. Carlos Arthur Nuzman tem o equivalente a mais de 2.500 medalhas guardadas em um cofre.
“A defesa não identificou em nada do que viu no presente momento, nenhuma prova consistente, inclusive o que se cogita é atribuir-se ao senhor Carlos Arthur Nuzman algo que ele não fez”, afirmou Nélio Machado.
Os procuradores afirmam que, entre 2006 e 2016, o patrimônio de Carlos Arthur Nuzman aumentou 457%, não havendo indicação clara de seus rendimentos.
Só em 2014, houve um acréscimo de mais de R$ 4 milhões. A maior parte desse dinheiro veio de ações que o presidente do Comitê Olímpico do Brasil tem de uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal. A companhia é proprietária de um apartamento em um prédio em Nova York.
“O Brasil não é mais um paraíso para corruptos, para bandidos. As investigações estão avançando, estão alcançando pessoas que nunca pensaram que poderiam responder os seus atos”, declarou a procuradora.
A defesa de Sérgio Cabral negou as denúncias e argumentou que o Rio venceu a eleição para sediar a Olimpíada com a vantagem de 40 votos. O Comitê Olímpico do Brasil não quis se manifestar. O advogado de Leonardo Gryner não retornou nosso contato.
Fonte: G1