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sábado, 7 de julho de 2018

Governo atende a reivindicações, mas caminhoneiros não voltam ao trabalho


Associações de caminhoneiros que defendem a volta ao trabalho denunciam interesses políticos de infiltrados. Greve já dura oito dias.

O anúncio de medidas que atendem a reivindicações dos caminhoneiros criou no governo a expectativa de que a categoria voltasse ao trabalho nesta segunda-feira (28). Mas não foi o que os brasileiros viram.

Sem saída, pressionado pelos caminhoneiros, o governo cedeu mais um pouco na noite de domingo (27) e o presidente Michel Temer anunciou o novo acordo.

“Atendem a praticamente todas as reivindicações que nos foram apresentadas. Por isso, eu quero manifestar a minha plena confiança, a confiança do governo no espírito natural de responsabilidade, de solidariedade e de patriotismo de cada um daqueles caminhoneiros que servem ao nosso país”.

Mas o que era para encerrar a greve de caminhoneiros gerou panelaço em todo o Brasil enquanto o presidente discursava.
No Rio de Janeiro, moradores bateram panelas em vários bairros; em São Paulo; em Brasília, panelas, luzes e buzinaço; no Sul do país, em Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. No Nordeste, moradores bateram panelas em Salvador e também no Recife.

O governo anunciou cinco novas medidas: redução de R$ 0,46 no litro do diesel na bomba e congelamento por 60 dias - depois disso os reajustes serão mensais e não mais diários; uma medida provisória para isentar a cobrança do eixo suspenso nos pedágios; outra MP garante aos caminhoneiros autônomos 30% do frete da Conab; e uma terceira estabelece uma tabela mínima para o frete.

Além disso, todas as primeiras medidas anunciadas na quinta-feira (24) - aquelas negociadas com o primeiro grupo de caminhoneiros - estão mantidas como a isenção de tributos sobre a folha de pagamento para o setor de transportes. Mesmo assim, a semana começou como antes.

Filas nos postos, caos, bloqueios, caminhoneiros de braços cruzados. Pelas contas da Polícia Rodoviária Federal, são 594 pontos de aglomeração de caminhoneiros.

Em São Paulo, o Globocop registrou caminhoneiros que tinham que pedir permissão para passar na Régis Bittencourt. O caminhão com carga viva e oxigênio para hospital passaram.

Em Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul, um caminhoneiro foi aplaudido pela população quando foi liberado de um bloqueio.

Em Cariacica, no Espírito Santo, um caminhoneiro de 38 anos levou um tiro na cabeça quando tentou impedir que um produtor rural e o filho dele furassem o bloqueio na BR-101. O caminhoneiro foi atendido num hospital e já teve alta. O rapaz que atirou disse que ficou nervoso com a abordagem e disparou quatro vezes contra o grupo de manifestantes. Ele foi preso e vai responder por tentativa de homicídio.

De acordo com a Associação Brasileira de Caminhoneiros, são mais de 2,2 milhões de motoristas profissionais registrados em todo o Brasil.

Um estudo da USP divulgado em fevereiro mostra que 58% trabalham com carteira assinada, 27% são autônomos e 15% têm outros tipos de contrato.

Na negociação deste domingo, representantes de caminhoneiros que na semana passada mantiveram a paralisação também foram ao Planalto e se encontraram com o ministro da Articulação Política, Carlos Marun.

“Não existe uma liderança uniforme neste movimento. É uma liderança difusa. São vários líderes. E o que nós fizemos? Nós ouvimos vários desses líderes e, do que ouvimos, de quais eram as suas reivindicações elaboramos essa pauta de atitudes e medidas que temos certeza que atende ao pleito dos caminhoneiros e fomos ao máximo no sentido do que poderíamos conceder”, disse Marun.

O grupo saiu do palácio dizendo que as medidas anunciadas atendem a categoria.

“Daquilo que se propunha, o nosso movimento está contemplado, disse Carlos Alberto Dahmer, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac).

Eles prometeram a volta dos caminhões às estradas.

“Vai levar uns oito, dez dias para fluir a oferta de carga. Os problemas estavam represados, agora vai virar normal”, afirmou José da Fonseca Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam)

Antes de deixar o Planalto, os caminhoneiros assinaram a ata da reunião com o compromisso de suspender o movimento assim que as medidas provisórias fossem publicadas no Diário Oficial. No fim da noite, o governo soltou uma edição extra do DO com as MPs.

Mas então, por que a grande maioria dos motoristas segue com os braços cruzados?

Há três explicações mais frequentes dadas por caminhoneiros nas estradas e por representantes do setor. Quem não gostou do acordo, quer mais. Quem concordou com as propostas do governo diz que o movimento já está diminuindo e que é normal que leve um tempo para normalizar. E há representantes que acusam infiltração política por interesses que nada tem a ver com a categoria.

“Da semana que nós estamos parados aqui já subiu cinco vezes o diesel está a 48 centavos a mais. Ele quer baixar R$ 0,46, uma coisa assim. O que ele está fazendo, trocando figurinha? A gente não sabe fazer conta?”, pergunta o caminhoneiro Edson dos Santos.

“Nós queremos o diesel a R$2,50, que o país tem condições. Agora estou falando pela população. Nós queremos que baixe o diesel, o etanol e a gasolina”, disse o também caminhoneiro Antônio Martins.

“A paralisação continua, mas ela vai continuar de uma forma mais ordeira, onde não vai parar e os caminhões de gás de cozinha, combustíveis tudo que foi pedido pelo governo estadual, pela governadora a gente vai cumprir sim. Ontem foi feita uma proposta pelo governo onde não conseguiu chegar aos objetivos da categoria. Sendo no custo do combustível, que foi dado R$ 0,46. A tabela de frete tem que ser avaliada porque nós temos muitos caminhões que fazem trajetos pequenos e da forma que foi colocada, foi colocada a quilômetro rodado e um caminhão fazer um percurso pequeno, um exemplo, o pessoal de Paranaguá, os contêineres, fazer um percurso ali não vai ter frete”, disse Plínio Dias, da Federação Nacional das Transportadoras.

O Sindicato Nacional dos Cegonheiros (Sinaceg) disse que os cegonheiros estão aguardando que haja segurança nas rodovias para voltar ao trabalho, e combustível, já que as carretas estão desabastecidas.

A Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística de Santa Catarina disse que o processo de reabastecimento será gradativo e pode levar até sete dias para se normalizar.

A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos orientou seus associados que entendem que as propostas do governo ainda estão em desacordo com suas reivindicações, liberem a circulação de combustíveis, inclusive gás de cozinha, produtos destinados à merenda escolar, produtos e alimentos destinados a saúde pública e hospitais, leite e caminhões com adesivo da Defesa Civil.

Algumas associações de caminhoneiros que defendem a volta ao trabalho denunciaram interesses políticos de infiltrados.

“Não é mais o caminhoneiro que está fazendo greve. Tem um grupo muito forte de intervencionista nisso. Eu vi isso aqui agora em Brasília agora na parte da manhã. Eles estão prendendo caminhão em tudo que é lugar. São pessoas que querem derrubar o governo. Eu não tenho nada que ver com essas pessoas e nem os nossos caminhoneiros autônomos têm. Mas eles estão sendo usados por isso e nós não vamos aceitar essa situação. O pessoal quer voltar a trabalhar, eles têm medo porque estão sendo ameaçados de forma violenta. Não mostram arma, mas levantam a camisa, a blusa, e isso está pegando em todo lugar do país. Eu acho que a Abcam não está preparada e não quer saber de nada disso. O governo não é bom, eu como cidadão posso até concordar que sim. Mas, como profissional que estou fazendo, jamais posso misturar estação”, disse o presidente da Abcam, José da Fonseca Lopes.

“Nós estamos com mais de 500 pontos. Então extrapolou e muito a organização da base sindical da categoria. E aí nós temos de tudo, infelizmente, né. Tem muitos locais que estão servindo de palanque para políticos. Existe às vezes outras intenções, existe alguma necessidade local, regional ou municipal que a categoria tesá tentando resolver”, afirmou Diumar Bueno, presidente da CNTA.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que o governo está monitorando o movimento e que já identificou a presença de pessoas que não fazem parte da categoria.

“Nós tivemos já uma percepção dos nossos órgãos de inteligência, bastante grande, de que nas concentrações havia muitas infiltrações, então nós vamos trabalhar para ver se conseguimos separar quem é infiltrado no movimento dos caminhoneiros, para que a gente possa ter a liberdade dos caminhoneiros que vieram ontem, hoje, a público pedir que queriam a continuidade da sua atividade, queriam a normalização do transporte, queriam voltar a rodar todos os veículos de comunicação estamparam hoje os líderes dos movimentos.

Portanto, nós vamos fazer de tudo para que os infiltrados, que em alguns casos a gente sabe que é uma proporção muito grande, sejam separados pelas nossas autoridades para que os caminhoneiros possam efetivamente na livre manifestação da sua vontade poder voltar a trabalhar”, disse Padilha.

Negociações, apertos de mãos. E o Brasil parado em filas, à espera de uma solução: o cumprimento das promessas feitas pelos dois lados.

Fonte: G1